Outro dia, conversando com um amigo, falávamos de como nossa geração não se prende mais aos padrões de sucesso dos nossos pais. Os millenials estão mais preocupados em ter experiencias e certeza de que estão buscando a felicidade seja como for. Para uma pessoa da geração Y é muito bom ganhar dinheiro, mas melhor ainda é poder falar, defender e agir como acredita. Ocorre que supreendentemente as pessoas dessa geração que estão ganhando mais dinheiro e visibilidade foram e são aquelas que tiveram mais coragem de arriscar na sua “GoodVibe” própria. Tenho amigos de infância que eram verdadeiros gênios em exatas e que seriam excelentes profissionais em escritórios (o sonho da geração anterior) e hoje possuem uma renda satisfatória como moto-táxi, e sentem-se livres dos padrões. Se isso a longo prazo é bom ninguém pode saber. Mas quem pode garantir que é ruim? Em muitos anos, essa é a primeira geração que não tem vergonha de assumir um posicionamento e ganhar dinheiro com isso. Os tempos são novos e empreender já não é mais como antigamente.
Antes de seguir nesse assunto, apenas para reflexão, vale analisar alguns dados disponíveis no Portal do Empreendedor e no site do IBGE. O primeiro gráfico mostra a faixa etária de pessoas que registraram MEI até agosto de 2020. O pessoal da minha geração (Y) é disparado os que mais tentam empreender. Juntos somam 53,15%.
Fonte: Portal Empreendedor
Isso no vale do silício deve significar muitas inovações e oportunidades, porém, aqui por esses trópicos arrisco que uma parte considerável seja por outras razões. Veja o gráfico seguinte que demonstra o número de desempregado por idade.
Notou alguma semelhança entre a proporção nas faixas etárias? Pelo cruzamento de dados dos dois portais podemos dizer que o empreendedorismo para os millenials é quase uma imposição do mercado por não ser capaz de gerar empregos suficientes para toda uma geração que buscou capacitação teórica e que não teve chance da capacitação prática.
Fonte: Portal Empreendedor
Por isso é preciso tomar cuidado ao tratar deste assunto, pois o Boom em registros de novos MEI’s é proporcional ao número de microempreendedores tendo que declarar falência. Não sejamos levianos em romantizar algo que, geralmente, não é em tempo algum uma oportunidade de negócios, um insight é sim a única possibilidade de sobrevivência. Estimasse que no ano de 2021 cerca de 360 mil registros de MEI serão baixados, por isso a importância de entender o que é e quais implicações podem gerar sendo você um Millenial ou não.
O registro de MEI foi criado pelo Governo Federal para enquadrar profissionais que exerciam suas atividades profissionais na informalidade, o intuito era fazer com que essas pessoas pudessem movimentar a economia dentro da legalidade e sem muitas burocracias. Nesses 20 anos de existências, ele tenta se adaptar às necessidades de mercado. Agora, a partir de 1º de setembro, o MEI não vai precisar de alvará de funcionamento para começar suas atividades. O objetivo é facilitar a abertura de novos negócios no país. A medida deve também estimular ainda mais o “empreendedorismo”, principalmente nesse cenário onde muitas pessoas estão se reinventando para gerar renda extra na pandemia. Além disso, ou, talvez, justamente em razão do isolamento social muitas pessoas começaram a empreender usando a plataforma digital do Instagram como um portfólio do seu trabalho. Então temos um leque de opções que vai de costureira fazendo máscaras a consultores tributários, passando por vários Coach financeiros e vendedores de comidas. Todos os tipos de comida!
Os profissionais começam com algo sem muita pretensão. Criar uma conta e postar foto não tem custo, se a pessoa souber ler e entender os algoritmos da plataforma, ela consegue um engajamento na rede possibilitando oportunidades de fechar negócios. E algo que começa sem grandes ambições pode se mostrar rentável. Nesse momento, é hora de pensar em comprar mais estoque, com menor preço, talvez uma máquina melhor, contratar uma mão de obra para auxiliar na produção e por aí vai. O jeito mais fácil, a gente já sabe, a pergunta que fica é: Quero ser MEI, e agora?
Critérios para ser MEI
- * Faturar até 81.000,00 mil reais por ano;
- * Não ter participação em outra empresa como socio ou titular;
- * Pode ser contratado por regime de CLT recebendo um salário mínimo ou o piso de sua categoria;
- * Importante consultar na lista oficial da categoria para ter certeza de que a atividade que deseja faz parte do MEI.
- * Consulte a Prefeitura de sua cidade para verificar as regras da nova atividade e/ou do novo endereço.
- * Contrate no máximo um empregado.
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Após cumprir todas essas regras, o primeiro passo é fazer a inscrição no Portal do Empreendedor, o aspirante a MEI manifestará sua concordância com o conteúdo do Termo de Ciência e Responsabilidade com Efeito de Dispensa de Alvará de Licença de Funcionamento. O documento será emitido eletronicamente e permite o exercício imediato de suas atividades. Vale dizer que isso é feito gratuitamente diretamente no Portal ou no aplicativo, alguns sites podem tentar aplicar golpes! Fique atento! Além disso, no caso do MEI, o empresário não poderá escolher como opção a razão social. Será sempre o nome completo e o CPF. Embora possa escolher o Nome Fantasia, ou seja, o nome com o qual a empresa será lembrada.
Feito isso todo mês, independente de faturar ou não, deverá pagar um DAS – Documento de Arrecadação do Simples Nacional – O valor pode ser de R$ 53,25, R$ 57,25 ou R$ 58,25 respectivamente para quem vai exercer atividades como Comércio ou Indústria, Prestação de Serviços ou Comércio e serviços juntos. O cálculo corresponde a 5% do limite mensal do salário mínimo e mais R$ 1,00 (um real), a título de ICMS, caso seja contribuinte desse imposto e/ou R$ 5,00 (cinco reais), a título de ISS, caso seja contribuinte desse imposto.
Alguns dos benefícios de sair da informalidade e ter um registro como MEI:
- * Você tem direito a auxílio-maternidade;
- * Direito a afastamento remunerado por problemas de saúde;
- * Aposentadoria;
- * Sendo MEI, você é enquadrado no Simples Nacional e ficará isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL);
- * Com CNPJ, pode abrir conta em banco e tem acesso a crédito com juros mais baratos. Pode ter endereço fixo para facilitar a conquista de novos clientes.
Como nem tudo são flores, abaixo os deveres que todo MEI precisa cumprir:
- * Pagar a DAS em dia;
- * Entregar anualmente a DASN-SIMEI;
- * Manter o controle mensal do faturamento;
- * Emitir notas fiscais para pessoas jurídicas;
- * Guardar as notas fiscais de compra e venda;
- * A Guia do FGTS e Informação à Previdência Social (GFIP), que é entregue até o dia 7 de cada mês, por meio de um sistema chamado Conectividade Social da Caixa Econômica Federal. (Se tiver Funcionário);
- * Ao preencher e entregar a GFIP, deverá ser depositado o FGTS, calculado à base de 8% sobre o salário do empregado. Além disso, deverá recolher 3% desse salário para a Previdência Social. (Se tiver Funcionário);
- * Dependendo do volume de rendimento deverá declarar o Imposto de Renda.
Putz, tudo deu errado e vai precisar fechar o negócio? Cuidado, “O jogo só termina quando acaba”. Segundo o SEBRAE: “A baixa automática poderá acontecer em caso de inatividade por 12 meses. No entanto, os débitos em aberto, referentes ao período de atividade, não serão cancelados. É importante que o MEI efetue a baixa para não gerar dívidas ou aumentar as dívidas existentes.” Ok?!
Falando em dívidas, agora que já sabemos quais os procedimentos e medidas a serem tomadas para efetivamente abrir um MEI, é importante antes de todo esse processo avaliar e planejar o seu negócio, mesmo sendo algo pequeno que você imagine que não terá altos custos ou risco é o seu tempo que será desperdiçado em alguma coisa que poderia gerar retornos com planejamentos e estudos de mercado. Entender e conhecer todas as despesas envolvidas no processo é fundamental para, por exemplo, precificar da melhor maneira o seu produto, isso pode gerar rentabilidade na sua produção. Sem esse tipo de controle provavelmente em médio e longo prazo o seu negócio terá prejuízos. Em um bom português, você pagará para trabalhar.
Se seu ramo é vender Bolo de Pote certamente já tem uma noção dos custos dos materiais, das embalagens, de quanto o consumo de gás aumentou, a energia pela utilização da geladeira, tudo isso precisa entrar no seu cálculo de despesa para dessa forma projetar quantos potes deverão ser vendidos para que pelo menos seja capaz de pagar tais despesas. Além disso, separar os gastos e receitas pessoais da empresa é básico para quem quer gerir um empreendimento.
Independentemente das razões que possam ter levado para esse caminho tente seguir da maneira mais séria e conservadora possível. Anote tudo, registre tudo, tente manter sobra de caixa e tenha maturidade para aceitar que o maior legado de nossa geração foram os vídeos do Jeremias bêbado usando uma blusa do Linkin Park e o sonho frustrado de não ter podido pessoalmente mandar um beijo especialmente para Xuxa e para Sasha. No mais, a gente segue se adaptando em busca da nossa liberdade – Financeira.
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*Por Tatiana Martins – formação em Ciências Contábeis – com pós-graduação em administração financeira e pós-graduando em ciências de dados. Escrever sobre o mundo contábil e financeiro é uma das suas paixões. “Duas coisas só me deu o Destino: uns livros de contabilidade e o dom de sonhar.”
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