Veja bem, trabalho na área contábil há bastante tempo e mesmo depois de concluir a graduação sempre tive uma dificuldade de me assumir contadora. Oras, como assim, “contadora”? Eu apenas li uns livros, fiz umas provas, participei de seminários, tirei dez na monografia, fiz a prova do CRC, mas “contadooora, contadooora”, nunca me assumi. Tenho a sensação de ser uma fralde. Como cheguei até aqui e convenci todas essas pessoas que sou boa em algo? Quando me perguntam sobre assuntos técnicos, palavras saem de minha boca numa explicação muitas vezes curta e num tom sério, como quem entende de determinado assunto. Mas “Contadooora”, não sei bem. Um dos meus grandes medos é de que o Sindicato dos Competentes Reais um dia ainda vai me descobrir e tal qual a Cersei, farei minha caminhada da vergonha.
Eis que no final do ano passado, fiz uma viagem sozinha, cerca de 20 dias dormindo em um hostel e conversando com desconhecidos. O que foi ótimo! Se antes tinha receio desse tipo de experiência, por ter no meu dia-a-dia menos paciência com conversas soltas, essa viagem me fez perceber que realmente não gosto muito de falar.
Minhas ideias não concatenam, minha gagueira não melhorou e meus tiques nervosos estão cada vez mais aparentes. Contudo, sou boa ouvinte. E nesses 20 dias, ouvi muita coisa de pessoas muito mais novas que eu, algumas coisas de pessoas bem mais velhas que eu (essas só comento diante da presença do meu advogado). Todos com muitos planos, metas, objetivos. Fiquei impressionada como aquelas pessoas ainda não tiveram a alma (e sonhos) morta pela vida corporativista. Eu estava de férias, curtindo… optei por viver aquela loucura e de alguma maneira me incentivou a pela primeira vez ter coragem de me assumir como profissional contábil.
Então, decidi que iria falar mais sobre assuntos ligados à contabilidade, que iria com muito cuidado e prudência me comporta de maneira mais ativa nas discursões relacionadas a minha profissão. Elaborei um esboço de um projeto para minha própria empresa, defini algumas metas para que isso saísse do papel, fiz orçamentos, estipulei uma reserva financeira, pensei em logomarca, enfim, tudo!
Não sei se você ficou sabendo, mas estamos vivendo cada dia como se fosse o último dia antes do fim do mundo.
Então meio que meus planos estão parados e se por um lado frustra, por outro é confortável saber que não precisei fracassar. Digo isso em razão da insegurança que esse período está causando. Estamos pelo menos três meses convivendo com as incertezas da próxima semana, não sabemos até quando isso poderá durar, mas sabemos que economicamente nem as empresas nem o governo terá condições para nos proporcionar, sozinhos, um final feliz para sempre. Em resposta a isso, o governo vem oferecendo medidas provisórias como soluções paliativas.
Esta semana (06/07/2020) foi assinada a prorrogação da MP936, o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda que tem por finalidade oferecer legalmente mecanismos para que empresários consigam manter seus quadros colaborativos. Isso porque ela dispõe sobre a redução de jornada de trabalho, bem como a suspensão do contrato de trabalho. Aqui vale dizer que em caso de aderir essas opões o empregador não poderá demitir o funcionário pelo período igual ao que foi utilizado pela MP936. Isso quer dizer que, se um funcionário tiver o contrato suspenso ou a jornada reduzida por um mês ao retornar ao trabalho esse funcionário terá a garantia de não poder ser desligado pelo período de 30 dias. Com isso o Governo tenta não alavancar ainda mais o número de desempregado no país ao mesmo tempo em que diminui a folha de pagamento das empresas. Como assim? Bem, vamos lá! Como já falei a MP936 se desdobra em duas opções de contratos.
Possibilidades de contratos
A primeira opção é mais fácil de ser explicada, é a suspensão do contrato de trabalho. Ou seja, a empresa junto com seu colaborador irá assinar um contrato de suspensão que será informado ao ministério da economia. O contrato poderá ser suspenso por até 60 dias. Isso significa que o funcionário irá receber pelo governo federal o salário integral.
A segunda opção também é bem simples, a redução de jornada de trabalho.
A empresa poderá reduzir em 25%, 50% ou 70% a jornada de trabalho, os salários serão pagos proporcionalmente durante o contrato que poderá ser de até 90 dias. O cálculo é pelas horas trabalhadas, exemplo: Se o seu contrato estipula 44 horas semanais e o salário é de 1.045,00. Utilizando a MP936 o empregador e empregado podem assinar um contrato com a redução em 25%. Isso significa que a empresa irá pagar 75% do seu salário e o governo irá assumir os outros 25%
1.045,00 * 75% = 784,00 (Empresa)
1.045,00*25% = 261,00 (Governo)
Esse valor será debitado na conta informada pela empresa. Caso o funcionário não tenha conta a Governo irá abrir uma conta digital na Caixa econômica ou no Banco do Brasil. Pela quantidade de usuários os sistemas da caixa veem apresentando problemas. A opção é instalar o aplicativo Caixa Tem eseparar um livro ou uma serie, pois posso garantir que o cadastro levará bastante tempo! Como também tenho que afirmar que é bastante simples fazer o preenchimento das informações, basta CPF, e-mail e às vezes o número de telefone. Outra opção é instalar o aplicativo Carteira de Trabalho Digital o cadastro é bem mais rápido, o problema é que nele você só conseguirá visualizar se o beneficio já foi depositado em alguma conta. Qualquer movimentação online deverá ser feita através do App Caixa Tem ou do aplicativo de sua conta pessoal caso tenha tido a sorte de ter o valor depositado diretamente nela.
A prorrogação por mais 90 dias significa que, pelo menos até outubro, seguiremos nessa incerteza, na melhor das hipóteses, com os planos engavetados, ou seja, oficialmente um ano perdido para os sonhadores. Mesmo para os que estão aprendendo a sonhar. Mas será mais um ano com pequenas conquistas para amontoar nas nossas outras tantas conquistas de todos esses últimos anos? De repente você seja sim muito bom nisso aí que você faz, e eu seja, de fato, uma boa contadora. Talvez este ano não seja para grandes conquistas e vitórias. Seja apenas para remendos e ajustes. Ah, e muitos aplicativos baixados.
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*Por Tatiana Martins – formação em Ciências Contábeis – com pós-graduação em administração financeira e pós-graduando em ciências de dados. Escrever sobre o mundo contábil e financeiro é uma das suas paixões. “Duas coisas só me deu o Destino: uns livros de contabilidade e o dom de sonhar.”
2 Comentários
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Show, Tatiana!
Preciso ler suas publicações com mais frequência!
Seu conteúdo é muito bom além de esclarecedor, parabéns!!!