Por Patrícia Brito
Quando falamos de conhecimento é quase impossível separar a erudição da vida particular. E é isso que iremos sentir nesta entrevista. O escritor Marlon Moraes concedeu uma entrevista para equipe, provando que sua vida tem união e sem direito a separação com a arte, seus versos e prosas.
O escritor nasceu na Bahia, em Bom Jesus da Lapa, em 16 de outubro de 1976. Alguns percursos da vida fizeram-no mudar para Minas Gerais, iniciando sua morada em Belo horizonte. Mas, atualmente, reside em Juiz de Fora.
Marlon Moraes é o poeta do amor, que se apaixona e vive as estações, intensamente; ainda que sozinho num quarto sem chave. E escreve a qualquer tempo, em qualquer lugar… Os versos são espontâneos.
A sua jornada como autor tem caminhada longa, louvável e cativante.
Ativo, ele participa de:
- Sarau do Poeta;
- Membro Associação de Cultura Luso-Brasileira;
- Academia de Letras da Manchester Mineira;
- Coordenador do Sarau in versus.
Graduado em Engenharia, funcionário público da Petrobras, suas primeiras obras foram publicadas na primeira estadia em Juiz de Fora. Entre algumas mudanças de cidades nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, sua carreira incessante expandiu-se e, hoje, encontram-se inúmeros títulos publicados.
Marlon Moraes conversou com o Business Comunicação, falando da sua carreira, livros, de como transforma suas paixões em versos, falou, também, um pouco da sua rotina autoral, filhos e vida. Confere com a gente este bate-papo emocionante.
Entrevista
Escritor
Não me atento às regras literárias! Não possuo estilo definido: meus versos são livres de caracterização ou modelo. Escrevo com o coração! […]
BC: Quando e como foi o seu primeiro envolvimento com a escrita?
MM: Diretamente, foi aos 16 anos de idade, durante um concurso de redação no colégio, onde o professor de Língua Portuguesa percebeu a minha “vocação” para a escrita.
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BC: A poesia, desde o início, foi uma escolha ou algo que surgiu naturalmente?
MM: A poesia me escolheu… Foi algo natural. Escrevi uma redação totalmente poética, que se destacou no concurso colegial.
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BC:
“Ser poeta não é minha ambição, é a minha maneira de estar sozinho” (Fernando Pessoa).Como é o Marlon Poeta? Para escrever precisa de silêncio ou a qualquer momento, entre caos e silêncio, os versos surgem?
MM: Marlon Moraes é o poeta do amor, que se apaixona e vive as estações, intensamente; ainda que sozinho num quarto sem chave. E escreve a qualquer tempo, em qualquer lugar… Os versos são espontâneos.
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BC: Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Existe alguma meta de escrita na sua rotina?
MM: Não há dia ou tempo pré-definido! Os versos nascem, florescem… E, quando os sinto “maduros”, preservo em um livro.
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BC: Quando surgem os versos em mente, você escreve a mão, anota no celular ou liga o notebook?
MM: Sempre escrevo à mão… Depois, apenas os transcrevo, digitalizando em um arquivo específico e compilando para uma obra futura.
[…] O meu verso é livre:
o que me permite o corpo
E a verdade na alma (unicamente) […]”
(p. 158) – Latitudes
BC: De onde vêm seus escritos? Seus versos são livres? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo? Ou o próprio olhar para a vida (ou sua vida) já lhe inspira?
MM: Os meus versos vêm do coração… São, absolutamente, livres! E eu (para estar livre) apenas cultivo a paixão em mim. Eis a minha inspiração: o amor! Que sinto e vivencio.
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BC: Você mostra seus versos para outras pessoas antes de publicá-los?
MM: Eu raramente apresento os meus versos a outrem… Vez por outra, confio a alguém, quando já estão quase “lapidados”.
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BC: Quantas vezes você revisa seus poemas/textos antes de sentir que eles estão prontos?
MM: Sou muito crítico! E apenas quando sinto um poema com ritmo e verdade nos versos, decido que está “pronto’. Mas não sofrem revisões contínuas os versos, talvez sim uma mudança de posição, para uma melhor sonoridade e enredo.
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Livros
Mar de Sophia foi um livro divisor de águas, entre a razão e a emoção… Foi uma obra de amor pleno, com grande dedicação; diante das circunstâncias da vida. […]
“[…] Como as manhãs no espelho, uma voz anunciava duas em uma vida: Sophia […]” Nota do autor
BC: Mar de Sophia tem muita espiritualidade, natureza, mar, reflexão com a vida. Existe diferença entre o Poeta Marlon Moraes e o simples Marlon Moraes?
MM: Mar de Sophia foi um livro divisor de águas, entre a razão e a emoção… Foi uma obra de amor pleno, com grande dedicação; diante das circunstâncias da vida. E o Poeta se distancia às vezes do Marlon Moraes do dia a dia, embora (no dia a dia) os dois se completem como um, 2.
BC: Ainda sobreMar de Sophia sentimos em todas as páginas uma homenagem ora explícita, ora camuflada. O quanto essa obra é especial? Conte um pouco.
MM:Sophia é a minha filha inata: um amor maior que me completaria como casal, em um casamento que se foi. E o destino quis assim… Então, dediquei o livro todo para ela! O que o torna especial demais para mim.
BC: Versos de ontem é o livro mais recente do gênero poético, uma escrita peculiar, com versos muito personalizados de sua autoria. Você prefere seguir sua intuição no momento de compor ou segue algum ritual no gênero textual (aquelas famosas regras de composição poética)?
MM: Não me atento às regras literárias! Não possuo estilo definido: meus versos são livres de caracterização ou modelo. Escrevo com o coração! Componho os poemas com muita paixão, com muito amor; sem me preocupar com rituais ou gêneros textuais. E “Versos de Ontem” concluiu um ciclo da minha vida; por isso me dediquei tanto e expus tudo o que vivi e senti.
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BC: Poesia Concreta é um tipo de poesia vanguardista, bem visual, que procura organizar o texto poético escrito no mesmo espaço do seu suporte . No seu livro Domínio Público, sentimos um trabalho nesse estilo. Como se dá a construção desse tipo de poesia e como foi escrever essa obra?
MM: Domínio Público foi a reunião dos meus quatro primeiros livros, uma antologia que me agradou bastante, pois revivi as experiências literárias com uma grata lembrança. Na época dos livros originais, experimentei muito e descobri uma Literatura que muito me completava. Então, a antologia me permitiu o regresso a um tempo ímpar, em que aprendi a me expressar de várias formas, poeticamente.
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BC: “Estrada Real” é um percurso de mais de 800km de extensão passando por Minas Gerais, Rio de janeiro e São Paulo. É também o nome que leva o seu primeiro romance, uma obra autobiográfica, na qual você narra sua aventura por esse trajeto. Conte um pouco dessa aventura, desde a decisão da viagem até a decisão da obra.
MM: Na verdade, são 830 km de extensão, entre os três Estados… Onde percorri (a pé) o Caminho Velho da Estrada Real. Assim, desbravei pela primeira estrada oficial do País as minhas verdades ocultas sobre o amor e a fé. Precisava eu ainda me “encontrar”… Depois do fim de um relacionamento de 15 anos, com muita dor e mágoa e ainda a perda de uma filha; decidi pelo Caminho. Ao longo do trajeto, eu verdadeiramente me descobri… E assim, eu ali me perdoei! Já atuando no projeto do livro “A Segunda Voz”, em conversa na Editora, percebemos que possuía eu (em mãos) um livro quase pronto.
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Vida
meu terceiro livro infantil (para 2019) se baseia na história contada pelo meu filho maior, que então estava com cinco anos de idade.
BC: Como são as férias para um escritor? Esse é um momento de leitura ou distanciamento dos livros?
MM: Não existem férias! Apesar de “forçar” um período de abstração, os versos e ideias me permeiam, continuamente. Assim, escrevo sempre… Mas apenas organizo um livro novo, após um tempo de “maturação”.
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BC: Em falar de férias, você trabalha 14 dias embarcado e 21 dias de folga. Esses dias mais leves são propícios à escrita ou você realmente relaxa de tudo?
MM: São 14 dias de embarque, nos quais quase não escrevo… Mas, na folga, os versos florescem mais, espontaneamente.
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BC: Você é pai de dois garotinhos e tem dois livros infantis. Os seus filhos foram fator decisivo para você investir nesse gênero literário? Eles participaram na construção? (Como?)
MM: Sim, os livros infantis foram inspirados e dedicados para os meus filhos… E foram fonte de muito prazer os ter escrito e publicado. Eles (os meus filhos) participaram sim da construção, com “críticas’ das ilustrações; mas apenas no segundo livro. No primeiro, ainda eram muito novos! Já o meu terceiro livro infantil (para 2019) se baseia na história contada pelo meu filho maior, que então estava com cinco anos de idade.
BC: Pai, escritor, poeta. Você incentiva a leitura aos seus filhos? Como é esse momento de pai escritor com filhos leitores?
MM: Sim… Apesar de não ser um bom leitor, incentivo a leitura aos meus filhos! E nos divertimos muito com contação de história e leituras (infantis) várias.
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BC: “Timpó e o Circo da Alegria” foi seu primeiro livro infantil. Narra o mundo mágico do circo, especialmente do palhaço Timpó. Em todas as páginas tem um espaço onde o leitor mirim pode participar. Como foi o processo da construção? Você, ao ter essa primeira experiência de imediato, pensou na interação da narrativa com o leitor?
MM: Escrevi o livro em uma tarde de sábado, em Macaé – RJ, onde eu residia então… E o pensamento era da minha infância (na Bahia) com o circo. Assim, projetei a história para que meus filhos e outros leitores mirins pudessem conhecer um pouco mais desse universo de alegria. Ao fim, já com o projeto na Editora, nasceu a idéia da interação entre a criança e o livro, com as páginas para se colorir. E deu certo! (rs)
“Cada um possui uma razão maior na história, que aqui se desenhou”.
(p. 36) – “A Tartaruga Carla e o Pescador”
BC: A Tartaruga Carla e o Pescador narra a batalha da necessidade e a vida marinha. Uma obra bem ilustrativa, rica em cores e há sempre o cuidado de trabalhar o lúdico e o lado pedagógico. Como nasceu a proposta do enredo? Qual mensagem o autor se preocupou em passar?
MM: A história nasceu das minhas experiências com o mar… E dos contos e lendas que sempre ouvi. Então, com uma consciência maior, pude criar um universo infantil, retratando uma realidade de vida. A mensagem é a de preservação do meio ambiente mesmo, que muitas vezes se conflita com as questões de sobrevivência humana. Mas acredito que o Homem e a natureza ainda podem viver em harmonia…
“[…]A minha poesia nasceu da dor
cresceu no amor
E morre […]”
(p. 100)
Versos De Ontem
BC: Podemos esperar novos projetos literários?
MM: Sim… Para 2019, existem dois projetos: um livro infantil, chamado “A Casa Falante”, baseado na história contada por meu filho Dante Moraes, e um novo livro de poesia, intitulado “Relicário”.
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BC: Marlon/Poeta X Marlon/Moraes, em qual momento essa voz que se materializa em poesia se nutre da vida do artista enquanto homem comum?
MM: Tanto no livro quanto em mim, as duas vidas (de poeta e do eu mesmo) sempre se confundem… Uma ainda depende da outra: não existe um Marlon Moraes que não seja poeta nem um poeta Marlon Moraes que não seja ele mesmo. Apresentar-me seria um grande desafio! Pois ainda não sei quem sou… Só sei que, antes da poesia, eu não era nada.
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Como diz José Castello, critíco literário respeitado e querido por muitos autores.
“[…] cada poeta, cada grande escritor, inventa sua própria língua. Importante estudiosa da obra de Clarice Lispector, por exemplo, a teórica canadense Claire Varin afirma que Clarice “não escreve em português, mas em Lispector”. Por essa mesma lógica, Guimarães Rosa escreveria em “Rosa”, José Saramago em “Saramago” […]
(p.4)
O Segundo mundo. Jornal Rascunho, fev 2019 – Ensaio/Resenha – José Castello http://rascunho.com.br/autor/jose-castello/
Marlon Moraes escreve Moraes e segue sua jornada autoral no Brasil e aqui no Business Comunicação.
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